segunda-feira, 23 de julho de 2012

Londres, a cidade rock 'n roll

Conheça os segredos e a beleza da capital inglesa neste relato escrito por André Costa, da Cinco TI, após passar alguns dias em Londres.

Existem muitas coisas a serem ditas sobre a capital inglesa, sobre sua cultura, suas atividades, sua rotina, e todas elas (ou quase todas) serão ditas. Mas a principal característica de Londres é a seguinte: a cidade simplesmente aniquila qualquer conhecimento de atravessar ruas que o sujeito tenha. Sério. Tipo, podem atirar ali alguém com doutorado em atravessar ruas, que tenha decorado todos os sentidos de todas as avenidas de Londres, que tenha um chip do Google Maps implantado na cabeça, e o sujeito ainda acabará com um nó no cérebro por ter que olhar para a direita quando está acostumado a olhar para a esquerda.

Nenhum sentido.

Mas esse é parte do charme de Londres, junto com as casinhas apertadas e iguais nos subúrbios, a arquitetura clássica, o clima totalmente cosmopolita, o tempo completamente nonsense, o contraste entre novo e velho, e por aí vai. A capital inglesa é daquelas que conquista as pessoas não só pelas atrações que oferece, mas também pela atmosfera que a permeia de cabo a rabo. Tipo de lugar onde apenas pegar um metrô de uma estação à outra já é divertido, porque ali se enxerga as rotinas dos moradores, como a vida realmente acontece por lá. Em Londres, o clichê é quase verdadeiro: a jornada é tão importante quanto o destino.

You know, fish, chips, cup o’tea, bad food, worst weather, London!

Caminhar por Londres é ter a eterna sensação de que se está caminhando em um filme – tanto o visual clássico da cidade quanto o sotaque britânico e ouvir pessoas dizendo coisas como “lovely” e “brilliant” se encarregam disso. Impossível ver um ônibus de dois andares e não esperar ver o Hugh Grant balbuciando piadas autodepreciativas a qualquer momento ou personagens de um filme do Guy Ricthie atirando sarcasmo e balas uns nos outros. Londres é assim, um espetáculo visual que faz os turistas constantemente girarem em torno de seu próprio eixo na tentativa de ver e captar tudo que a cidade oferece (não conseguem).

Uma vez vencida a odisseia de atravessar ruas (e se acostumar a ver carros com cachorros ou pessoas dormindo no lugar onde deveria estar o motorista), o transeunte pode se juntar aos milhões de habitantes e começar suas desventuras pegando o confortável metrô da cidade, que traz figuras tão díspares quanto aquelas muçulmanas que só deixam os olhos de fora e aquelas moças tão pouco vestidas que só o que importa é deixado de fora (e às vezes nem isso). E é curioso perceber a naturalidade com a qual essas culturas diferentes coexistem, sentadas lado a lado, sem ofensas nem ataques nem nada. Acredito que o metrô de Londres seja o mais perto que o mundo já chegou da paz mundial.

Estádio de Wembley.

É importante usar o metrô também porque é muita coisa para ver em pouco tempo, então há essa necessidade de abraçar a filosofia “pé na tábua” e investir um pouco menos em caminhadas longas. Bom é que nem precisa parar para comer lá, já que a opção de “take away” (tipo, o cara pega a comida no restaurante e sai com ela na mão devorando tudo enquanto se pirulita pra outro lugar) é normalmente mais barata e mais prática (aliás, como estamos falando de libras e de uma cidade cara, a opção mais barata é sempre a mais prática). Claro, essa iniciativa pode acabar levando a certos, hm, certos arrependimentos – perto do estádio de Wembley, comi uma pizza grande e com três sabores diferentes por seis libras, mas havia tanta gordura naquela iguaria italiana que era impossível distinguir os sabores entre si (talvez meu inglês não seja tão bom e o cara tenha entendido que eu pedi pizza “sabor infarto”).

Aliás, o Wembley e o Emirates Stadium são duas paradas essenciais para quem curte o velho esporte bretão. As construções são magníficas e os tours pelos estádios, além de caberem no bolso (entre 12 e 15 libras), injetam felicidade no coração dos apaixonados por futebol, uma vez que passam por corredores, vestiários (com camisetas dos jogadores penduradas em seus respectivos assentos), tribunas de honra e até no campo (mas sem pisar no gramado). Não obstante, no momento da entrada em campo, a equipe do estádio coloca um som de multidão e uma música emocionante enquanto as pessoas caminham pelo túnel, o que inevitavelmente leva ao choro compulsivo.

Londres ainda tem sua cota de cinemas de calçada, teatros e monumentos em homenagem à Segunda Guerra Mundial, o que, junto com a enormidade de pubs, a torna talvez o maior híbrido entre intelectualismo/roquenrol do mundo (aliás, os anúncios de peças de teatro estão bem visíveis nas estações do metrô, emoldurados, bonitos. Comparem com aqueles A4 rasgados e mal colados nos prédios que a gente vê Brasil afora). É também uma cidade surpreendentemente arborizada, principalmente por não se encontrar na zona tropical, nem na zona temperada, mas sim na zona nenhum sentido – dia de sol, calor, garrafas e garrafas de água e é só o cara chegar numa sombra que a temperatura já fica fria feito uma mulher vingativa. Ainda assim, graças à beleza e as atividades, há de se dizer que, mesmo com o tempo ruim, em Londres nunca tem mau tempo.

Cultura Turística

Londres é tão sensacional que tem mais coisa para ver lá do que em um ensaio fotográfico da Natalie Portman. Mas algumas são essenciais, e talvez poucas causem mais impacto do que o parlamento e o Big Ben: são construções tão bonitas e maciças, evocam tanta coisa só por estar lá, que se assemelham mais a uma beleza natural do que a uma construção humana – Big Ben, aliás, é um termo apropriado pela semelhança com Big Bang, já que o famoso relógio é tão imponente que parece ter estado naquele lugar desde o início dos tempos.

Que bela vista, hein?

Logo ali, atravessando o Tâmisa, temos a London Eye e seus 135 metros de altura que desprezam o nível do mar. É um passeio carinho (24 libras) e bastante concorrido, com filas quase tão grandes quanto a própria roda-gigante vitaminada, mas falam que a vista lá de cima é épica (obviamente meu temor de lugares ridiculamente altos me impediu de subir. E ninguém me convencerá de que não foi uma decisão acertada). Bom é que dá para seguir pelas margens do rio, apreciando a vista, as pessoas e tudo mais, até chegar ao Tate Modern e sua bizarra mas interessante coleção de obras de arte moderna (pra vocês terem uma ideia, a primeira que vi lá dentro foi um corvo falso pregado numa parede). Para quem não entende nada disso (como eu) ou tem preguiça de caminhar (não como eu. Tá, um pouco), o museu ainda oferece um jardim tranquilão onde a galera senta e fica só conversando e passando o tempo.

E em uma cidade como Londres, onde até as calçadas parecem saídas de um livro de história, os museus são impressionantes e cativantes registros históricos – e tanto o Tate Modern quanto o British Museum e a National Gallery oferecem entrada gratuita a seus visitantes. A National Gallery, inclusive, fica numa praça chamada Trafalgar Square, com fontes enormes onde as pessoas tomam banho, esculturas, cafés com garrafas de cerveja de plástico, relógio com contagem regressiva para as olimpíadas e uma atmosfera tão agradável que dá vontade de morar lá (tem até alguns artistas de rua pipocando lá de vez em quando – quem precisa de TV?).

Esse clima de “ache seu lugar ao sol e deite” também se encontra no descomunal Hyde Park, aquele verdadeiro continente repleto de árvores e gramados convidativos a deitar e tirar uma soneca (como muitos fazem, aliás. Inclusive no meio da tarde. Sem medo nenhum de que alguém passe e leve suas coisas), onde também se vê muita (mas muita) gente fazendo cooper, andando de bicicleta e realizando outras atividades saudáveis às quais eu sou alérgico. Como se não fosse o suficiente, um dos tantos quilômetros do parque é vizinho de ninguém menos que o Royal Albert Hall. O famoso teatro transborda beleza e tradição, mas poderia ser tão feio quanto a fome na África que mesmo assim seria digno de adoração, visto que gente do quilate do The Who já fez acordes barulhentos ressoarem ali dentro.

Dali dá para ir a pé até a Harrod’s (salas lindas, preços caros) ou então caminhar um pouco até o Palácio de Buckingham e conferir a troca da guarda – que, na minha opinião, foi um pouco decepcionante pelo absurdo número de turistas lá (acredito que, em caso de revolta, as duas guardas não dariam conta do recado) atrapalhando a visão. Além do mais, como tudo ocorre no pátio do palácio, há grades atrapalhando a vista da galera. Mas é legal. É meio que uma dança de quadrilha com um líder aparentemente brabo e gritando tipo aquele professor substituto está completamente saturado dos alunos, mas é legal.

Outros pontos que me senti obrigado a visitar foram o simpático mercado de Notting Hill, que é uma divertida caminhada por banquinhas e ruas bonitas com várias coisas legais e acessíveis pra comprar, embora sem Julias Roberts, e a faixa de segurança da Abbey Road - que, descobri na hora, não possui sinaleira (também conhecidas como “semáforo”). Tipo, é um lugar de trânsito bastante movimentado, e esse trânsito é obrigado a parar cada vez que alguém pisa na faixa para tirar uma réplica da famosa foto (= motoristas que passam por lá devem ser os mais frustrados do planeta). E ali pertinho já é o Abbey Road Studios, cujo muro está repleto de mensagens escritas pelos mais diversos viajantes, dos mais diversos lugares, todos tão diferentes entre si e ainda assim unidos por uma paixão única pela música.

I Love the Nightlife

Mais impressionante do que a quantidade dos pubs de Londres é a qualidade dos mesmos. Melhor ainda, entra-se de graça nos dito cujos, e a cerveja lá não chega a alcançar preços exorbitantes – pode-se tranquilamente encher o estômago com as ótimas Foster e Guinness sem sair do bar direto para a falência. O único porém é que esses mesmos pubs fecham demasiado cedo, pela uma da manhã, e fecham mesmo, não tem chororô para quem quer beber mais ou ainda não terminou sua cerveja. E acostumar o relógio biológico com o novo horário para tomar cerveja (já que só pode ficar até a uma da manhã, tem que chegar mais cedo) é muito mais complicado do que lidar com o jet lag.


Picaddilly Circus
As casas noturnas, claro, ficam até mais tarde. Tive a oportunidade de conhecer apenas uma, relativamente perto do Picaddilly Circus, que abrigava duas pistas, cerveja boa e em abundância e diversas inglesas morenas e de olhos claros cortando corações com sotaque britânico. Aliás, era uma região com diversas atrações noturnas, embora elas estivessem um pouco espalhadas ao invés de concentradas apenas em uma rua ou algo assim (e desconheço se é uma região boa ou não. Apenas sei que a diversão na casa noturna sem nome foi muito boa e que o frio é intenso quando se tem que esperar pelo metrô ao relento durante a madrugada). E certamente existem milhares de outras zonas boêmias onde jovens como nós podem se perder na vida e não se importar nem um pouco com isso.

O hostel onde fiquei na capital inglesa era em cima de um lugar chamado Belushi’s Bar, e meu check-in no local aconteceu da seguinte forma: entrei à noite no bar, que estava lotado, e percebi que havia um sujeito tocando violão e pessoas dançando empolgadas, inclusive algumas gurias fantasiadas de coelhinho (não tipo coelhinha da Playboy, e sim coelho mesmo, seus maldosos). Paguei a estada, subi pra largar minhas coisas no quarto e desci para alegrar meu cérebro de felicidade líquida. Eis que, ao abrir a porta do bar, o sujeito do violão começa a tocar uma balada de rock e todo mundo começa a cantar junto com os copos erguidos – quem me conhece pode imaginar a bomba atômica de felicidade que explodiu dentro de mim na hora. E isso aconteceu diversas vezes, com diversas canções, incluindo até um arrepiante coral de vozes chamando na breguice absoluta em Total Eclipse of the Heart. E pra mim isso define bem o espírito de Londres: é linda, é cativante, é repleta de cultura, repleta de história, repleta de lojas e pontos turísticos inesquecíveis. Mas, acima de tudo, Londres é puro roquenrol.

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